Diante da crise hídrica que se alastra pelo país, a situação exige ações coletivas e integradas, por prazo indeterminado
Crise, essa palavra, que insiste fazer parte não apenas do dicionário, mas da nossa realidade está aí neste momento de nossas vidas. A palavra crise em chinês é composta por dois ideogramas (letras), um significa perigo, o outro, oportunidade. Esse antagonismo caminha junto. Nosso pior momento é também a nossa maior oportunidade. O fundo do poço é o começo do lençol d’água.
Crise hídrica, a volta do dragão (inflação), essa saga brasileira que corrói o poder de compras dos brasileiros, o aumento dos combustíveis e energia, a preocupação com a disseminação da dengue, enfim, são motivos pra gente se preocupar.
A mudança de cultura começa, obviamente, com o poder público. No entanto, o colapso também exige mudança de hábitos da sociedade civil. O desafio é transformar a mudança de hábito em mudança de cultura. Meta que cabe tanto ao poder público, como também as organizações da sociedade civil (indústrias, empresas, comércios) e a mídia, com seu caráter informativo e educativo, para que essas medidas adotadas durante a crise se tornem de fato uma mudança cultural e permanente.
Transformar essa crise numa oportunidade de mudança. É isso em essência e consciência coletiva. Agora com simples medidas podemos contribuir para que esse estado de coisas seja transitório. Em tempos de crise, todos são convocados a participar.
Mas o tempo do aposentado e pensionista pertence à consciência coletiva. A sabedoria em saber lidar com os problemas é maior por conta da chamada experiência de vida. A consciência conta muito e com pequenas ações podemos fazer a diferença.
Na verdade não existe remédio rápido, do tipo dez mandamentos, para a crise. O que existe é uma série de boas ações que deveriam existir em toda a sociedade com ou sem crise.
Gaste menos, poupe mais. Mudar nem sempre é simples, mas é preciso. Em outros termos, mudando atitudes, fazemos a nossa parte.
- Use o controle financeiro a seu favor: Negociar o financiamento observando qual a melhor taxa de juros, pesquisar a melhor compra e condições de pagamento. E nunca comprar por impulso, comprar por necessidade.
- O planejamento mensal é essencial para fugir de problemas financeiros futuros. Ele é a base para que não falte dinheiro para os gastos fixos. Faça constar o valor da renda total da família, independentemente da sua origem, tais como salários, aposentadoria, aluguéis, entre outros.
- Identifique os chamados gastos fixos - aluguel, condomínio, prestação do automóvel, por exemplo. Depois, inclua os gastos variáveis, que se alteram conforme a taxa de consumo - luz, água, gás, combustível, telefone, internet e supermercado.
- Luz acesa só quando necessário, os aparelhos eletrônicos devem estar na tomada só quando estiverem sendo usados. Simples e econômico.
- É preciso economizar. Afinal existe uma infinidade de aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos disponíveis que não existia há 15, 20 anos atrás. Televisor, DVD, aparelho de som, computador, estabilizador, roteador, celular, smartphone, videogame, câmera fotográfica, ar condicionado, freezer e micro-ondas conectados nas réguas das tomadas.
- Aquele banho no chuveiro pode e deve ser encurtado. A água é um bem escasso, ela não existe mais em abundância.
- Reuso de água da máquina de lavar para descargas de vasos sanitários ou limpeza das áreas externas nas residências e condomínios.
- É preciso se preocupar em usos domésticos em que se fica muito tempo com a torneira aberta, seja no banheiro, na cozinha, lavanderia ou áreas externas.
- A prática de compartilhar uma carona solidária, que além de fazer bem ao bolso e ao trânsito, possibilita aquele bate papo no trajeto.
- Respeito ao meio ambiente: a primeira coisa é evitar a poluição, com pequenos gestos. Isso é urgente. Muitos dos problemas dessa crise de água, especialmente da urbana, vêm da sociedade. Isso porque usamos rios e nascentes para diluir esgoto, em vez de tratá-lo.
- Coleta seletiva: separar materiais a serem reciclados e não misturar com lixo orgânico - resto de comidas, papéis sanitários, guardanapos, plastificados, engordurados, casca de frutas, pilhas, bitucas de cigarro, isopor e outros.
A questão da torneira fechada na hora de ensaboar, escovar os dentes, barbear, e dar menos descarga no vaso sanitário são fundamentais. Uma das principais fontes de uso de água potável em casa é no banheiro. Nos modelos mais antigos, com as válvulas afixadas na parede, consumem em média 12 a 15 litros de água, nos mais modernos (caixa acoplada) a média de 6 litros que vai embora com cada descarga. É um volume muito grande de água potável. É importante lembrar: a água que sai da descarga é a mesma da torneira. Uma água que poderia servir para outros usos mais nobres.
Segundo pesquisa publicada pela Folha de São Paulo, com base no ano de 2013, o consumo de água por habitante continua crescendo no país. É preocupante, pois estamos na contramão do consumo per capita de água, já que deveríamos reduzi-lo. Aliás, os brasileiros consomem em média 166,6 litros por habitante/dia, e a população do estado de São Paulo é responsável pelo consumo de 188 litros por habitante/dia. A Organização Mundial da Saúde - OMS alerta e recomenda o consumo de 110 litros/dia.
Em suma, são pequenos gestos, que se tornam grandes atitudes. Os cidadãos mais experientes já sabem disso, agora porque não levarmos essa mensagem aos mais novos?
Temos oportunidade ímpar com essa crise, com todos os problemas que ela traz, de observar o nível a que chegamos com nossa atividade de gestão de recursos hídricos e de energia. Temos que transformar isso em momento de virada. Não custa nada tentar, a qualidade por um futuro melhor, depende de todos nós!